Hoje em dia, não há praticamente ninguém que aja como
Sócrates agia, que acredita que toda a pessoa é capaz de usar a razão para
entender as verdades filosóficas e, por isso, afirma que o diálogo hábil e rigoroso
é o melhor método para obter conhecimento, pelo contrário, cada vez mais há
instrumentos para aumentar o déficit de conhecimento e de inteligência.
Comparo
os Diálogos de Sócrates , com a droga NZT-48 no filme “Sem Limites”, de Neil
Burger. Sócrates tinha a intenção de fazer com as pessoas aquilo que a droga
fez com Eddie Morra no filme, aumentando e estimulando a mente completamente.
Algumas
pessoas gostariam de comparar Sócrates a um revolucionário socialista. Eu não,
pois apesar de Sócrates se relacionar com pobres e não gregos, assim como
políticos e pessoas com propostas comunistas, a diferença é que ele não tinha o
propósito de derrubar governos e sim mudar a visão de mundo dos atenienses,
principalmente dos jovens.
A
Internet está fazendo o papel contrário ao de Sócrates, apelando para o humor e
para a luxúria, encarecendo o conhecimento da população. Assim como
Sócrates confrontava os sofistas antigamente, algumas pessoas cultas que
acreditam no conhecimento individual combatem os sofistas de hoje, como
políticos e advogados que falam daquilo para que são pagos. Cada vez mais há instrumentos
que estimulam os impulsos e os sentimentos, almas que pertencem ao mundo
sensível.
O
Mito da Caverna é uma alegoria válida, atual em qualquer época. Em qualquer
sociedade há aqueles que detêm a inteligência e o poder, que moldam a verdade através
da internet, televisão, dos jornais e livros, e se não é desse jeito, é dificultando
o acesso à cultura, pois quando a cultura é democratizada, a população começa a
ter um senso crítico a respeito de tudo, inclusive do governo.
Podemos
ver com o projeto SOPA, Stop Online Piracy Act (Lei de Combate à Pirataria Online),
onde a desculpa é que piratear músicas, vídeos, etc. é errado. Acho que estão
errados, pois esse é o método em que as classes sociais inferiores, que são a maioria,
têm acesso à cultura.
Aqueles
que no Mito da Caverna enxergam as sombras dos objetos são aqueles que hoje não
têm acesso direto à cultura. As sombras projetadas na parede são as coisas que
percebemos que pensamos, que é a essência da coisa. As correntes são nossos
preconceitos e opiniões, são aquilo que vemos e achamos que é a verdade, mas
que na verdade é uma ilusão.
Aquele
que sai da caverna é aquele que reflete, critica e analisa a realidade em que
vive. Hoje em dia há pouquíssimos filósofos como o homem que sai da caverna
para ver a essência da verdade. O sol é a luz da sabedoria, assim que o homem
sai da caverna sofre pois o conhecimento traz a libertação de conhecer a
verdadeira realidade e traz também o tormento, como quando o filósofo não
conseguia enxergar, devido ao choque de realidade.
Mesmo
sendo muito doloroso, o homem persiste em conseguir enxergar a verdadeira
realidade, o mundo iluminado pela luz da sabedoria. Após voltar da realidade,
ele quer compartilhar esse sentimento, querendo convencer os companheiros de
que tudo o que eles viram era uma ilusão. Não é de se espantar que eles fiquem
em dúvida, pois a estrutura, tudo o que aquelas pessoas tinham visto durante a
vida inteira seria mentira, ilusão.
Um
bom exemplo prático do Mito da Caverna é na Idade Média (período entre 476 d.C.
e 1453). Naquela época quem projetava a sombra era a Igreja, o clero, em tudo,
no pensamento, na política, na cultura e até nas guerras, organizando as
Cruzadas. A diferença é que ela não deixava ninguém “sair da caverna”, cobrando
indulgências e executando hereges em fogueiras e forcas.
O
filósofo que, analisando, refletindo e questionando sobre as sombras, as
realidades, que na Idade Média era a Igreja, se libertou das correntes e
algemas para sair da caverna e ver a luz da sabedoria, o mundo iluminado por
ela, a realidade, foi Martinho Lutero, líder do movimento protestante.
Lutero
era monge na Alemanha, e assim como todos na época, via as sombras projetadas
pela Igreja. Então, analisando melhor a Bíblia viu que algo estava errado,
queria saber o motivo de a Igreja cobrar indulgências. Acreditava que a
salvação não se consegue apenas com boas ações, mas como um presente de Deus,
recebida apenas pela graça através da fé em Jesus como um redentor do pecado de
acordo com o versículo de Efésios 2:8 que diz “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós,
é dom de Deus.”
A partir daí, ele se liberta das correntes
e entra na realidade iluminada pelo sol do conhecimento adquirido por ele.
Imediatamente ele vê que precisa compartilhar isso com seus companheiros. A
diferença do Mito da Caverna é que Lutero, através da sua tradução da Bíblia
para o alemão democratizou a verdade, derrubando a Igreja católica,
consequentemente convencendo várias pessoas. Outra
diferença é que ninguém matou Lutero, talvez por causa de seu enorme apoio
popular.